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Foi há dias e ainda dói.
 
Eis a America, land of the free, na lente sempre deslumbrada, de um herói. Nikita apareceu nas nossas vidas, semanas depois de Putin invadir a Ucrânia. Nikita acordou sobressaltado com o estrondo das bombas a explodir ba sua Kharkiv Natal, e entrou em modo urgência máxima: salvar a família. Natasha, a mulher, e a filha Sasha, com a idade da nossa filha, partiram para o mais longe que o ecrã das partidas do aeroporto e as suas economias permitiram, com base numa promessa de ajuda à chegada a Lisboa. Mal ele sabia que a mulher e a filha ficariam desamparadas ao aterrar, sem ajuda nenhuma afinal. Elas vieram assustadas e em choque para nossa casa, entrando na nossa família. Quando Nikita conseguiu vir ter com elas, vivemos um dia tão esmagadoramente feliz, como é agora pesada e terrível a tristeza da notícia da súbita morte deste herói anónimo. No dia de anos da sua adorada Sasha, o homem grande, que me tratou desde o primeiro momento como “Brother”, que vimos comover-se na Praia Grande, um dia, a querer confirmação para a pergunta: é o Atlântico? Pode-se molhar os pés? Não se paga oara passear na praia?
Nikita levou a família para a América, terra prometida, e lá refizeram a sua vida. Chegaram mesmo a molhar os pés no Pacífico, que o seu trabalho americano era percorrer grandes distâncias. Dessas viagens, mandou-me dezenas de fotografias, durante estes anos. Com palavras simples a acompanhar.
 
“hello to the kindest and dearest person to me. How are you ? how are the kids? how is rita? anything new.? we miss you all so much, brothers from Portugal”
 
Os nossos corações estão com Natasha e Sasha, e o mesmo laço improvável que uniu Kharkiv e Cascais naqueles meses, une, invisível mas inquebrável, esta casa e esta família, à dor que estão a sentir lá em Chicago. Nikita foi um herói anónimo, um valente que deu tudo pela família, trabalhando como solitário condutor de milhares de kms por essa América fora, e nunca se esquecendo de partilhar o que via, com esta sua família atlântica. Nikita não foi o único herói desta maravilhosa família. Onde esteja, seguirá com um eterno orgulho na Natasha e na Sasha,. Que valentes. Mas caramba. Que dor.
Como a vida pode ser tão incompreensível, cruel e injusta.
 
“thank you, we are very good. we work, study and live 100% we miss you very much“
 

 

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4 comentários

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De Francisco Carita Mata a 27.10.2024 às 08:57

Comovente! Viva a Paz!
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De Paulo Pereira a 28.10.2024 às 09:11

Bela e comovente homenagem a esse herói, como certamente haverá tantos e como noutros registos Luís Sepúlveda os dava a conhecer.
Belas fotos, quando o silêncio é tudo.
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De Hugo Barata a 28.10.2024 às 17:34

As saudades que tinha deste espaço! :)
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De Joana Pinto a 16.12.2024 às 00:14

Há uns anos muito largos, era eu adulta de fresco, este blogue era alimentado por ti (se me permites o tratamento) de modo quase diário, e eu cá vinha: adivinhava angústias e poesias, concordava e discordava, e vinha sempre. Depois, num momento em que a vida te abanou as estruturas (ou que abanaste as estruturas da vida) - percebi depois ser a separação da mãe dos teus filhos mais velhos- houve um tempo sabático, sem novos textos... continuei a entrar diariamente, depois semanalmente, ... na ausência de textos novos, ou na sua escassez, fui deixando de vir.
Há momentos vi um post de Instagram da Rita : estavas emocionado no palco do Meo Arena. Eu pensei o segredo do sucesso deste homem é a sua sensibilidade e a forma como ele comunica nas pessoas e as toca. Lembrei-me imediatamente do blogue que me viu crescer e amadurecer. O texto que encontrei esmagou-me o coração, mas não nego na felicidade de pelo menos o blog estar vivo e com saúde.
Lamento imensamente a vossa perda. Lamento ter perdido a fé no teu blogue e na tua escrita que sempre me tocou tanto. Prometo voltar para ler e reler. (Como se promete àqueles amigos da faculdade ou do secundário que nos vamos falar mais vezes.) Que quentinho saber que aqui estás. Obrigada. Beijinhos. Joana

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