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Foi tudo ontem.

por PR, em 21.08.19

10612761_10204707363662959_6968557252276283241_n.jQuem jogou neste grandioso estádio, no futebol da minha infância, sabe que o melhor guarda-redes de sempre foi um rapaz chamado Abel. Voava para apanhar todos os remates ali ao fundo, entre a parede e uma pedra da calçada que punhamos a fazer de poste. Ele tinha vindo de Angola, tremia de frio mesmo quando já estavamos em Maio e era de um sorriso que nunca esqueci. Neste campo da rua conheci o meu primeiro grande amigo portista, que ia jogar com uma camisola  que parecia oficial (raridade absoluta, à época). Era o Filipe Aleluia. Nunca mais soube dele. Morava no prédio de um miudo chamado Tiago, que morreu, naquele que foi o primeiro embate da minha vida com a morte de alguém que eu conhecia.Nesta praceta havia um senhor, careca e de bigode, que morava numa casa com uma varanda que dava mesmo para a grande área. Às vezes a bola ia lá parar. Umas vezes subíamos, arriscando tudo para continuar o jogo. Outras vezes ele chamava a policia e não havia mais bola para ninguém.Na praceta de Sofala, que na altura era maior do que é hoje, porque, entretanto, aumentaram o espaço para os carros; jogava o Dy, jogava o Filipe dos Óculos, o Tozé do prédio do canto, o Pestana do meu prédio que ficava do outro lado da rua, o Barrocal que mandava naquilo tudo, os manos Silvério. O Peiduça, o Mirron, o Miguel que era o irmão mais novo da Susana e que agora é Chef de Cozinha.Naquela calçada aconteceram golos e jogadas que deviam ter sido gravadas. Mas não havia telemoveis, nem internet, nem consolas...por isso passavamos o dia na rua.

Nesta rua.

Eramos Jordão, Carlos Manuel, Gomes bi-bota, João Alves, Chalana, Oliveira, Bento.

Ou Zico, Sócrates, Falcao, Éder, no incrivel verão de 82.

E, muitas vezes, não havia ninguém para jogar, eu saia de casa, levava uma bola e inventava jogos a sério, sozinho, a atacar e defender as duas balizas, horas a fio, neste passeio que aqui vos mostro.

Tudo me parecia tão maior.

O mini-mercado Costa & Teixeira, um baixinho, magrinho de bigode, o outro bonacheirão. O Tebe, que era madeirense e morava por cima dessa loja, onde vendiam garrafas de gasosa que tinham um berlinde dentro.

Esta imagem, na qual tropecei hoje, tem vista para esse lugar mágico, longinquo e aconchegante que é a infância, apesar de alguns fortes pesares, que também os houve.

Mas ali, a jogar à bola, ou hóquei com os sticks Reno dos miudos que jogavam no PA...

Ou simplesmente na conversa, nas escadas de um dos prédios da Praceta...eu fui um miúdo tão mas tão feliz.

Fazer linhas, dois saltos e o resto passos. Muda aos 5 acaba aos 10. Ou quando nos chamarem da janela.

Praceta de Sofala. Maior Estádio do Mundo. ​

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4 comentários

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De Tita Vicente a 24.08.2019 às 09:15

A infância das gerações pré internet e telemóvel era sem dúvida muito melhor! Parabéns, adorei o texto :) Não jogava futebol, mas fez-me viajar para a minha infância quer fosse as brincadeiras na rua dos meus avós ou no pátio do meu prédio.
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De Maria Castanha a 24.08.2019 às 09:58

Amei este post de tantas e bonitas recordações.
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De Bruxa Mimi a 24.08.2019 às 13:59

Tão, mas tão bom! Também eu tive uma infância muito feliz, pela mesma altura (n. 1973), a fazer outras coisas, mas com a imensidão do tempo por minha conta...
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De Anónimo a 05.09.2019 às 00:13

A propósito:

https://ouriquense.blogs.sapo.pt/tag/bno

(Este link é para a tag "bno", que significa Bola no Olival; uma série em que o autor relata, por meio de jogos de bola da infância nos Olivais, todo um universo paralelo (ou interceptante ) aos mesmos. Estão por ordem inversa, como é normal nos blogues. E está incompleto, pois a série, que aqui transcreve, já tinha sido publicada num blog anterior e tem perto de 100 episódios, se não estou em erro.)

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