Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
O que eu lembro melhor é que, no Natal, éramos muitos. Os meus pais, a minha irmã,a minha avó, os meus tios e primos. os tios e primos deles. Uma casa pequena, que depois ganhou um sótão e uma escada de caracol. Havia presentes a encher o pequeno corredor até à cozinha, e esse corredor, que hoje demoraria dois ou três passos a percorrer, parecia-me enorme. Tenho aquela imagem viva na memória, aquela luz do monte de embrulhos de papel colorido, revelados aos nossos olhos, depois do meu tio bater na porta da sala á meia noite. Era o Pai Natal. O nosso Pai natal da infância é o meu Tio Artur, que amanhã receberei em minha casa, tantos anos depois, tão bom. O que eu lembro é o jogo do Futegolo, sucedâneo tuga do Subbuteo. Lembro-me de uma bola de futebol, que depois levei para a escola, tão contente. Lembro-me dos LP´s que depois ouvia sem parar, nos dias seguintes, a aprender as letras todas. Depois houve um ano em que não fomos porque se decretou que não havia Natal. passei a noite de 24 na sala, no escuro, phones nos ouvidos, com o "Alchemy" dos Dire Straits de uma ponta à outra. Depois houve um ano em que o meu Pai ficou em casa. Depois já eu e os meus primos tínhamos as nossas casas e a vida levou-nos para Natais diferentes, outros montes de presentes, outros cenários e latitudes.
O que eu me lembro também é da árvore de Natal ser um pinheiro natural, havia aos montes à venda nas ruas. Ainda bem que isso mudou, que estupidez abater árvores assim todos os anos, que em Janeiro enchiam os contentores. Lembro-me do cheiro da caruma na sala. Do encantamento das luzinhas, reflectindo nas cores das bolas de plástico. Lembro-me de um Natal no Algueirão. Outro ali ao pé da Avenida do Brasil, noutros tios e primos, longínquos até hoje. Uns embrulhos numa chaminé, um pijama encarnado às riscas.
Lembro-me do Pai Natal nas ruas, ali no Rossio e nos Restauradores, e de eu ter medo dele. Há uma fotografia a preto e branco que comprova esse irracional e infantil receio.
O Natal de quando eu era a criança que os meus filhos são hoje. E a certeza de que o deles é melhor que os meus em muita coisa, mas talvez lhe falte a inocência de nos encantarmos muito mais com muito menos.
Feliz Natal a todos, mesmo os que vão passar a consoada a ouvir música, sozinhos algures. Há sempre mais e melhores natais à vossa frente. Acreditem, já lá estive.