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Por enquanto, é o medo. O que há-de ser de nós, como se dizia numa música antiga. Haverá sempre comida? Ou melhor, quando é que vai começar a faltar comida? Atravessaremos tudo, enquanto sociedade, sem que o desespero leve a violência, saque, descontrolo nas ruas, se começar a faltar o essencial a muita gente? Quantas pessoas vão perder o emprego, quantas empresas vão fechar. Quantas pessoas mais vão morrer?
E quantas vão, para cada um de nós, sair dos números das notícias, para nos atingirem no peito, porque vão ser pessoas “nossas”? E quanto tempo mais vai durar isto? Quanto tempo até estar tudo bem? Quanto tempo é a grande pergunta, toda ela cheia de perigos.
Tenho saudades da minha mãe. Tenho saudades do Gonçalo, da Maria e da Mafalda. Tantas. Cada vez mais, a cada dia.
Queria dar um abraço à Filomena. Tenho saudades da minha irmã. Quero ir ver a minha sobrinha marcar um golo e o meu sobrinho ganhar um combate no karaté, mesmo com as cores leoninas. O que é que interessam essas cores...
Tenho saudades das pessoas da rádio. E de estarmos todos na rádio, a trabalhar e na paródia. Tenho saudades de almoçar no Rastilho com o Maisfutebol, ou na Tasca, ali em Pedrouços, em épicos almoços com o meu clã benfiquista.
Foi no último almoço desses, que o nosso amigo Manuel nos avisou para o que aí vinha. Ficámos boquiabertos, podíamos lá imaginar!
Tenho saudades de jantar com amigos cá em casa. Saudades de ir a um concerto.
E as saudades que eu tenho, de viajar com a minha mulher. Ou de apenas fazermos planos para ir. Tenho saudades de ir buscar a Carminho à escola e da alegria dela quando eu chego. Dela a correr para mim, a saudar-me com aquela alegria tão típica dela: “Pai”!
Tenho saudades dos meus sogros, dos meus cunhados, de estarmos todos juntos. Sinto mesmo falta da vidinha de todos os dias. Ir treinar. Ir ao shopping, ao cinema, ao futebol. A um restaurante. Tão simples, e agora tão impossível. Tenho saudades de ir trabalhar com o novo gang que conheci na TVI, e irmos todos almoçar, rindo das dificuldades enquanto petiscamos. E há também a nostalgia das coisas simples e banais, como ir com a família toda cá de casa, em bando, almoçar ao Love it, e estar um dia de sol, e pedirmos, eu e a Rita, um copo de sangria.
Tenho saudades de não termos medo.Todos. Uns dias mais, outros menos, mas todos temos medo.
Seja como for, haverá um depois.
Acredito que todos sairemos disto mais conscientes daquilo que deve ser prioritário no nosso dia a dia. A gostarmos ainda mais uns dos outros. Com a noção do quão preciosos somos, uns para os outros.
E da sorte que temos em termos a vida que tínhamos, até isto.
Sairemos, desta travessia, melhores pessoas: mais generosos, mais tolerantes, mais disponíveis para ouvir o outro e tentar perceber como será “estar nos seus sapatos”. Haverá tempo e vontade para abraçar, para dizer e mostrar que se gosta, que se gosta mesmo, para sarar feridas que estejam abertas, para consolar quem mais precise, e para voltar a ser natural o estar contente. Teremos paz de espírito para nos rirmos outra vez, juntos.
Que venha rápido, que a neura aperta.
Virão dias bons, os melhores, mesmo.
”You may say I’m a dreamer, but i’m not the only one”, como dizia outra música.
(Photo by Edwin Hooper)