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Deus nos valha?

por PR, em 18.08.16

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Como um rumor de corrente forte, ao fundo, que não vemos mas adivinhamos pelo som vago que não pára, sabemos que a Síria continua a ser mais e mais arrasada, todos os dias. E que, ali, como no Iraque e Afeganistão, o poder do louco Estado islâmico continua pouco menos que imparável. E que os meandros da política internacional continuam os mesmos, escorregadios e hipócritas, cheios de danos colaterais, como esta criança aqui, atingida pelo raid russo de ontem, em Aleppo.

O que terá pensado ela quando ouviu o estrondo que caiu do céu em chamas? O horror que lhe secou todas as lágrimas possíveis e lhe congelou a expressão, num terror que lhe desfez a infância para sempre em pequenos pedaços, como um vidro estilhaçado que nunca mais é possível colar?

Isto está a acontecer.

Ontem já tinha ficado nauseado com a impressionante reportagem de Henrique Cymerman sobre as mulheres e crianças violadas e os homens decapitados por esse braço armado do Mal, chamado Daesh, uma espécie de encarnação da maldade da Idade das Trevas dos pesadelos para a realidade do século XXI. E eu nunca vou esquecer os relatos que ouvi, na primeira pessoa, num campo de refugiados na Macedónia, com famílias de olhar igualmente perturbador de tão triste, desorientado e sem esperança.

Esta imagem é um daqueles despertares da nossa espuma dos dias. Isto está a acontecer. Meu Deus, isto está a acontecer. 

E Deus, a propósito? Um amigo, crente como eu, dizia-me ontem que "Deus não tem nada a ver com isto". 

Eu acho que, se não tem, devia. Que multiplicar pães e transformar água em vinho, já foi chão que deu uvas, agora a urgência é real, não dá para metáforas. A luta contra o mal nunca está ganha, como se vê. Então e o Bem? Que força terá, ao dia de hoje? 

Pobre criança. Dá vontade de pegar nela, limpá-la, curar-lhe as feridas, procurar a família que ainda terá, dar-lhe uma terra de paz para poder crescer, em segurança e com dignidade. Longe deste nojo, deste genocídio, desta loucura.  Uma criança como as nossas, que teve o azar de nascer ali, naquele inferno. Uma sociedade que não trava esta praga maligna, uma civilização que permite este horror, só pode ter ser vista assim, com o olhar desta criança: vazio de esperança, incrédulo, só cheio de tristeza. 

 

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1 comentário

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De Anónimo a 18.08.2016 às 10:53

Foi a primeira coisa que vi logo de manhã foram estas imagens. Há muito tempo que não chorava tanto. Como é possível??? Só apetece ir lá buscar os miúdos todos. Aquela apatia mata. O meu dia hoje vai ser uma merda porque só penso que raio ando aqui a fazer na minha vidinha quando há miúdos a viver isto. Não sou mãe. E cada vez tenho menos vontade de ser, não suporto ver miúdos assim. Tento ajudar com o que posso. Tenho medo de pôr crianças no mundo e que de repente não lhes consiga dar aquilo que elas merecem. E se um dia estas coisas me vêm parar à porta? Não quero gerar um filho para isto. A europa continua parada sem fazer nada. França e Rússia continuam a bombardear a Síria e a causar também isto que vemos nas imagens. Será solução? Por que é que o Daesh continua a ter parceiros comerciais que, por acaso, são "nossos" parceiros também? Isto mete um nojo que nem lhe digo nada. Enquanto eu não vir alguém com tomates para fazer o que deve ser feito, nunca vou acreditar que possamos vencer o Daesh.

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