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Vínhamos de 7 pontos de audiência, em 3º lugar no ranking, quase a 10 pontos do primeiro. Hoje temos quase 16, somos nº1 e a vantagem para o segundo é cada vez maior. Mas essa é só a forma mais simples de olhar para este caminho.
Faz hoje oito anos.
Há oito anos, hoje, o administrador António Craveiro tinha a generosidade louca de me lançar o maior desafio da minha vida profissional: ser director de programas da Rádio Comercial. Não foi sequer um convite, na verdade. Foi uma ordem.
Eu estava há uns anos afastado da "minha" rádio, num tirocínio que mudou tudo, aprendendo muito na Best e no RCP, descobrindo-me mais versátil do que imaginava. Serviu também, e tanto, para seguir uma regra que me impus: equilíbrio imprescindível entre o saber que se tem jeito para isto mas fazer sempre tudo para evitar cair no erro de se achar o maior.
Eu não percebo que Novembro era esse, porque eu vim de uma esplanada, na praia de São Pedro, de calções e sweat cor de laranja, chamado para a tal reunião urgente “com a administração”.
A estação estava mal. Em muitos aspetos, mas sobretudo na falta de auto estima. Sentia-se pouco orgulho. Sentia-se aquela desolada resignação perante a inevitabilidade de perder. E eu ligava o rádio e sentia isso tudo e também a falta de vida, no ar. Vida como a vida que acontece fora do rádio. Verdadeira, com emoções reais e não fabricadas, com imprevistos bons e maus. E depois, outra coisa: pouca paixão. Não passava para lá da telefonia aquela coisa do “esta pessoa adora fazer rádio, adora o seu trabalho, percebe-se logo”.
Eu não percebia.
E os ouvintes também não, a avaliar pelas audiências.
A verdade é que os primeiros dois ou três anos à frente da estação só serviram para confirmar o que eu temia, desde a primeira hora: eu não estava minimamente preparado para a tarefa. Tive de errar muitas vezes, aprender que uma estação de rádio é sim a soma das partes, uma soma de talento e esforço de muita gente, e que é preciso escolher bem a equipa, acreditar nela e na ideia que se tem, mesmo que os resultados não apareçam logo. É preciso mostrar à equipa um caminho.
E aprender a dizer que não. Provocar desconforto, desilusão, tristeza. Às vezes tem de ser. Custa muito, mas tem de ser. Fazer aquilo em que se acredita. A estação primeiro, sempre.
E perceber, finalmente, que há coisas decisivas para o sucesso, que não dependem de ti. Precisas dos outros, ninguém consegue nada sozinho.
A chegada de Luís Cabral à administração, e da equipa que com ele veio, foi essencial. Que personalidade inspiradora. Finalmente alguém me acompanhava, a sério, no objectivo “querer ser líder”.
Deitar mãos à obra, arregaçar as mangas e fazer tudo o que estivesse ao nosso alcance, nomeadamente convencer accionistas a fazer o que ainda não tinha sido feito. Era preciso dar a volta à História, sim. E deu-se. O Luís é, além do mais, um amigo que ganhei para toda a vida, o que não é dizer pouco. Mexeu com isto tudo e a estação deve-lhe mais, muito mais, do que a mim, neste caminho feito até à liderança.
Área técnica, Marketing, Multimédia. Foi uma revolução.
Para mim ficava a antena. Fazer Rádio com paixão, autenticidade, rasgo, imaginação, alegria, um sonho a mover tudo, assumir riscos, falar como falam as pessoas, perceber o mais possível os seus gostos e tentar surpreendê-las, em bom. Dar aos ouvintes conteúdos que eles nem sabiam que queriam ou que iriam gostar tanto. Ir muito para lá da música, mas falhar o menos possível na música.
Ter orgulho em vestir a camisola da estação. Perceber que o que faz uma estação de rádio de sucesso é a afinidade, intimidade na relação com quem ouve, confiança e lealdade nessa relação com os ouvintes. Além da música certa. Que não é só a que testa bem. É aquela que se antecipa que pode vir a testar muito bem, se deres a experimentar, mesmo fora da bolha mais previsível. Instinto.
E talento, claro. O mais que for possível encontrar e reconhecer à tua volta.
Hoje, oito anos depois, olho para a minha querida equipa e encontro um nome que aos ouvintes pouco dirá, mas que foi e é essencial, desde o primeiro dia. Chama-se João Pedro e sem ele, não sei como teria aguentado o que foi preciso aguentar, nos tempos mais duros, e ainda hoje, às vezes. Ele é fundamental, uma daquelas partes da máquina que, se não existisse, a máquina parava.
E o Nuno, também, com o seu iluminado entusiasmo e genuíno amor pela estação. E os sonoplastas, com o seu talento e pica a trabalhar, o Nuno e o Mário.
Sim, tenho um enorme orgulho na contribuição que dei para este sucesso. Mas tenho igual dose de gratidão, para aqueles que apostaram em mim e na minha liderança.
A minha equipa, aqueles que mais gostam de mim e os que gostam menos, os que mais acreditaram genuinamente que era possível dar a volta ao destino e os que demoraram mais tempo. Digo isto sem ponta de amargura. Aprendi que as pessoas são todas diferentes, têm timings diferentes e nem sempre os astros estão todos alinhados, ao mesmo tempo, para toda a gente.
E sei bem que uma equipa nunca é definitiva. Sim, gostava de ter aqui gente que ainda não está. A vida de uma estação de Rádio não pode parar...
Oito anos depois, olho para a equipa que escolhi e sim, sinto um enorme orgulho. Há aqui muito talento, um enorme entusiasmo por sermos, todos, Rádio Comercial.
A minha equipa das manhãs, uns campeões deste ofício, enormes, ali, ao meu lado, todos os dias, e agora melhores do que nunca. O Vasco, que fui buscar à Mega, à segunda tentativa, e que hoje é o que é. A Vanda, e o caminho das pedras que teve de fazer para ser hoje a comunicadora que é...todos os dias são dias de Vanda, na telefonia. E se ela não estiver, nota-se. Mérito dela, imenso e indiscutível. O meu querido Nuno, uma vida comigo em estúdios de rádio, das Amoreiras à Sampaio e Pina. E na vida, uma amizade daquelas que são para sempre.
A maravilha que foi ter a oportunidade de ter o Ricardo connosco, e de como ficámos ligados para sempre, os 5. Tanto talento junto, num programa da Manhã. Sou um privilegiado por poder fazer parte.
Ontem, quando comecei a escrever isto, aqui no meu gabinete, olhei para a minha equipa e sorri. O Vasco a ver golos do Sporting no You Tube. A Ana a testar planos com a máquina de filmar, para uma coisa que andamos para aqui a magicar. A Joana com os auscultadores, mas só numa orelha, enquanto ia escrevendo, brilhante como é. Que bom tê-la aqui. Foi bem.
A Mafalda a cantarolar e a escrever no teclado, sorrindo. O Markl no Ipad a mostrar uma coisa qualquer que fez com que a Patricia e a Catarina tenham desatado a rir. O João Pedro aqui ao lado, no seu gabinete, a bulir, sempre a bulir, craque.
A Rita, no ar, a passar uma música e a soar pela sala toda: “Cá estamos, cá estamos e é tão bom. Adoro esta música”, diz ela. A Ana Margarida sorriu, que eu vi daqui.
A Margarida às voltas com o TNT, à tarde a Arroja chegará arrojadíssima na sua azáfama habitual, e virá também o Wilson, com a sua mochila e o seu sorriso para a equipa e a resmunguice para o easy edit. Onde anda o João Vaz? Ah foi almoçar. No Porto, a Marta Santos segura as pontas e agora ainda mais orgulhosa: a sua cidade também nos escolheu, que alegria! A querida Sofia vai ali gravar umas promos, com a sua voz Smooth e a alegria dela fazer, sempre, parte da Comercial também.
A vida de uma estação de rádio, por dentro. O pulsar de um sonho tornado realidade, somos a nº1 um e agora ultrapassámos um milhão de fãs no facebook, que loucura!
Faz hoje 8 anos que cheguei à minha cadeira de sonho, como dizia o outro? Não. A minha cadeira de sonho é a do estúdio, microfone à minha frente, mesa de mistura ligada, “Rádio Comercial, bom dia, são 7 horas!”
Mas estes oito anos, à frente da programação desta histórica estação de Rádio, são sim, motivo de enorme orgulho, está a ser uma aventura maravilhosa. E o que foi feito já ninguém nos tira.
Sei que, inevitavelmente, chegará o dia em que abraçarei outros desafios, e terei de sair da Comercial, é a lei da vida; mas hoje, oito anos depois de ter sido nomeado director da estação, o que sinto é que a Rádio Comercial, onde entrei para trabalhar, pela primeira vez, em 1993 (!) é como um filho, estamos ligados para sempre. Tantas horas com todas as emoções possíveis, nestas salas e estúdios, nestes anos todos.
Alegria. Orgulho. Gratidão. Sonho. Aquela energia boa e rara das coisas que mexem profundamente connosco. Oito anos depois, líderes, e a mesma resiliência de sempre, o mesmo drive, a mesma noção de que…ainda não aconteceu nada, isto ganha-se e perde-se, a cada dia.
Bora lá. Venham mais.