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33 anos disto.

por PR, em 01.02.23

No dia em que completo 33 anos de carreira, um nome toma conta da evocação daquele meu primeiro dia: o Costa.
O Luís Costa fazia o painel 2-7 no CMR, e foi a primeira pessoa que me anunciou na rádio, num noticiário do fundo da noite.
Eu não podia imaginar como ele seria tão determinante na minha vida. E de como tenho tantas, tantas saudades dele. A sua absoluta honestidade, a sua coragem, a maravilha que era o seu sentido de humor, a nobreza do seu carácter foram farol para mim, transformando-o numa espécie de Irmão mais velho, que conheci exatamente naquele 1 de Fevereiro de 1990.
Uma vez passei a noite de Natal a fazer noticiários, sem mais ninguém na rádio.
Era uma e tal da manhã apareceu-me lá, com vinho e bolo rei. Ri-me para disfarçar a comoção que o gesto me provocou.
Quando, há dias, morreu Tom Verlaine, foi no Costa que pensei, e de quando ele punha a tocar “Kaleidoscopin’ aos gritos naquele maravilhoso estúdio 1 de porta escancarada, enquanto íamos ao nosso lanche nocturno, junto à máquina do café encarnada, que existia por cima do frigorífico, encostada à janela, ao pé do “estúdio de Monsanto”.
As horas infindáveis de ténis em Alfragide, o jogarmos Doom na casa dele, onde vi ao seu lado os 6-3 (era grande sportinguista) e ele foi um desportista, as futeboladas da rádio em que ele era figura absolutamente central, a sua táctica do alfinete no cigarro para deixar de fumar, as aventuras da sua Tropa na Marinha, a sua gula das sobremesas, o arroz de marisco regado com João Pires, em Ribamar, o seu Ford Cortina onde ainda chegamos a andar, as férias com o JPB e o Markl na Cabeça da Cabra, o meu primeiro casamento em que ele foi um dos padrinhos, a música - meu Deus a música era tão presente na nossa irmandade! - dos Gene Loves Jezebel ao Thunderstruck, dos Ac-Dc, em que, de forma infantil, gritávamos “Sandra” no arranque.
Ele teve um programa de música Country, lá no CMR, chamado “O amigo americano” e tentou, muitas vezes, convencer-me das virtudes das canções de um tal Garth Brooks. Sem êxito. Eu tentei que ele gostasse de música portuguesa.
E por vezes até aconteceu!
O Costa foi uma sorte que me aconteceu. Amigo, amigo mesmo.
Ainda hoje usamos, na rádio, algum software que foi ele que criou! Quando aprovo contratos de locuções lembro-me sempre dele!
Foi a primeira pessoa que me disse que eu tinha jeito para a rádio, e hoje, que faço 33 anos de carreira, coincidindo com o dia em que o conheci, as lágrimas que me caem são as mesmas que me aparecem a cada 26 de Dezembro, o seu dia de anos.
Nunca apaguei o teu número, Luís, nunca consegui.
E hoje lembrei-me muito de ti, precisava tanto de um dos nossos almoços, ali no Buzina.
Não sei o que acontece a seguir, quando partimos, mas gosto de pensar que há dias em que consegues ouvir-me a dar na rádio, e só dizes “Tá tude!”, uma das tuas expressões que me ficaram até hoje.
Obrigado por tanto, é o que eu mais queria dizer-te, em podendo. Este puto que fazia aquelas peças às 5:20, no teu painel, com notícias de fait divers que não cabiam nos noticiários, tem saudades tuas. Muitas.

33 anos de Rádio, hoje.

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