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Bebé Carminho. A caminho.

por PR, em 15.11.16

Apareceste como um rumor de águas a correr, ao fundo, na floresta. Aquela qualquer coisa determinante, que faz o traço fundo entre um antes e um depois, e que se adivinha assim, decisiva e única, mesmo enquanto é só uma ideia no ar, uma promessa sem prazo, uma mera possibilidade, um se calhar que já sabemos que vai ganhar forma, e sabemos só porque sim, desde o princípio.

Apareceste, anunciada numa noite de verão, de surpresa como um aguaceiro bom, só para assentar a poeira dos dias secos e fazer campanha antecipada, com vitória já certa, para uma causa que vai conhecer a luz, o ar, o cheiro e o toque da Primavera que há-de vir.

Tiveste outros nomes possíveis, mas nenhum foi logo o teu como este, de que a mãe se lembrou e que o pai não teve de aceitar ou ser convencido, porque, assim que me soou, foi certo e definitivo. Carminho.

A mãe e o pai andam a contar-te semanas, vinte e uma agora, vinte e duas este sábado, até chegar a Primavera.

Agora há umas apps que vão detalhado a tua viagem e a nossa, a cada semana, e nós, todos os sábados de manhã, olhamos maravilhados para um novo capítulo. A mãe e o pai têm rituais assim. Para tanta coisa, temos os nosso rituais!

Até quando se chateiam, fica sabendo. Sim, às vezes a mãe e o pai zangam-se um com o outro, ficam uns dias mesmo zangados, sabes? Mas, e isto é um segredo que o pai te está já a contar, guarda-o com um sorriso cúmplice: mesmo quando o pai e a mãe estão zangados, ás vezes damos as mãos à noite. E um beijinho de manhã ao sair de casa. E festinhas, quando um dos dois finge que está a dormir. Como diz uma música:

 

"Deixa-o dormir, o nosso amor. um bocadinho mais

Deixa-o dormir, que viveu dias tão brutais"

 

Chama-se cuidar do outro. Cuidar em tempos de zanga é das coisas mais difíceis de conquistar na vida, e é sinal de que é mesmo para valer, ficas a saber. É uma teoria minha. Como diz outra música:

 

"'Tá rindo, é?"

 

Um dia vais sentir que deves cuidar de quem gostas e de quem gosta de ti. São pessoas raras na nossa vida, há que saber guardá-las bem. Nunca deixes que um dia mau te faça baixar as expectativas. Só te zangas com quem tens expectativas ao nível das grandes, das maiores, daquelas que importam. Com quem não é importante para ti, não te zangas, queres lá saber. Pensa nisso quando te chateares com os teus irmãos, que, asseguro-te, irá acontecer muitas vezes! Estás a franzir a testa? É verdade! 

E não vamos falar já de como vai ser quando tu te apaixonares! Temos tempo. Temos todo o tempo do mundo.

Agora estás aí, na barriga da mãe, protegida pelo amor e pelo creme anti-estrias. O pai anda ansioso para te sentir mexer. Para a mãe é mais simples: ela sente-te, as duas são uma, de certa maneira. A mãe depois explica-te.

A mãe está a dizer ao pai que andas a mexer-te muito! Falta pouco para te poder sentir, pela primeira vez. As mãos do pai, bem prontas para ser o teu primeiro escudo protector, para sempre. Há coisas que um pai quer sempre muito, por antecipação, e olha para elas, à distância do tempo que ainda falta, com tanta vontade, tanta! Esticar o dedo para apertares com a tua mãozinha. Passar a mão no teu frágil cabelo. Fazer-te cócegas. Dar a primeira sopa. Estar ao teu lado, amparando os teus primeiros passos. Ensinar-te as cores, os cheiros, os perigos, as brincadeiras, ver como será que vai ser para ti a areia da praia nos pés, as ondinhas a desfazerem-se aos teus pés, como vais gostar dos animais e os sons que eles fazem, ir buscar-te ao infantário, ver-te provar novos sabores, conhecer-te as manias e os medos. Como vais ser ao acordar, a resmungar ou feliz da vida ao primeiro plim das pestanas.

Quando chegares, tens muita gente à espera. Tens três rapazes e duas raparigas, e já nasces irmã deles todos, já viste a tua sorte?! Tens o pai e a mãe, que te imaginaram já tanto, que riem sempre, nesse nervoso ansioso: como será a tua carinha. Qual será a cor dos teus olhos. Terás o narigão do pai ou o nariz elegante da mãe. Vais ser vaidosa e pirosa e ter um sorriso e uma gargalhada irresistíveis. Tenho a certeza que vais ser muito feliz.

Tens um avô e duas avós. Tens duas tias e um tio. Tens primos e primas. Tens um quarto que ainda vamos construir, numa casa que ainda não o é, mas que o pai e a mãe estão a compor. Sim, estamos grávidos de um bebé e uma casa nova. E são presentes que vamos desembrulhar na mesma altura, curiosamente. O pai e a mãe são assim: movidos por sentimento, por impulso irreprimível, por paixão. 

Não temos carro onde caibam todos, mas vais ter um grande carrinho.  Há uma fadista com o teu nome, que lançou agora um disco maravilhoso, a cantar cantigas de um senhor que se chamava Tom. 

 

"São as águas de março

Fechando o verão

É a promessa de vida do teu coração"

 

Anunciaste-te com o verão, as águas de Março hão-de trazer-te, Carminho, meu amor.

Estamos todos à tua espera.

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16 comentários

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De Pedro a 15.11.2016 às 18:14

Boa nova, Pedro! Tudo de bom!
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De Ana Bela a 15.11.2016 às 19:15

Parabéns a vocês!! Tão bonita a vossa casa, a que mora aí dentro e a que se vai compor. Sejas bem vinda Carminho.
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De Magda L Pais a 15.11.2016 às 20:13

Parabéns Pedro. Ainda me lembro da alegria que senti quando engravidei dos meus dois gaiatos e é isso tudo e muito bem.

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De Kikas a 15.11.2016 às 21:55

Muitos parabéns à Rita, ao Pedro e aos manos, a Carminho vai nascer já com um belo texto (público) escrito pelo papá ;)
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De Joana a 15.11.2016 às 22:28

Para nós, que desejamos ser pais e temos esse projeto a breve prazo; para nós, que adoramos crianças e que sorrimos numa cumplicidade só nossa quando as vemos sorrir e garagalhar; para nós, que nos amamos profundamente e já amamos prematuramente toda a vida que podemos vir a construir; para nós, que nos zangamos, resmungamos, criticamos, mas rapidamente nos acarinhamos e ultrapassamos aquilo que surge como obstáculo, tantas vezes sem o ser; para nós, que estamos a lutar mais do que pensamos poder pela nossa felicidade; para nós... o que descreves é o que mais queremos para a nossa vida. É isto, sem tirar nem pôr. Obrigada, Pedro! Para além do excelente dom das palavras, tens uma humanidade e um amor pelos teus indiscutivelmente comovente. Gostámos MUITO do que escreveste e esperamos um dia ser e sentir tudo o que descreves, na 1ª pessoa do plural. Sempre. Beijinho e abraço nosso. Joana
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De Us4all a 16.11.2016 às 07:41

Muitos Parabéns Pedro 🙏 que texto maravilhoso!
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De Ana a 16.11.2016 às 10:55

De lágrimas nos olhos...

Parabéns a todos. Grande família.
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De Ana Rita 🌼 a 16.11.2016 às 11:08

Com sorte ainda nasce no dia 19 de Março a cereja no topo do bolo!
Muitos parabéns Pedro que a Carminho venha cheia de saúde e que o caminho dela seja sempre feliz e solarengo.

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De meialaranjainteira a 16.11.2016 às 12:59

Que boa notícia!
E que forma maravilhosa de a expôr!

Parabéns à família inteira. Que vivam dias maravilhosos na boa nova que se anuncia!

E obrigada pela partilha!
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De Miguel Bastos a 16.11.2016 às 14:38

Belíssimo texto, Pedro. Parabéns! Pelo texto e, sobretudo, pelo motivo do texto...

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